sábado, 21 de agosto de 2010

A Interlocução entre as Ciências Sociais e o Meio Ambiente (Relatório)

Na manhã do dia 26 de abril do corrente ano foi dado início a um trabalho de campo realizado pelos alunos do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em parceria com o Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas (CEPEAM) da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional, sob a orientação do professor Ademir Ramos.
O objetivo principal deste trabalho de campo é fazer uma interlocução entre as Ciências Sociais e o meio ambiente de maneira que os alunos possam se envolver em pesquisas voltadas para o meio ambiente e promover a comunicação, elaboração de projetos e análises críticas relacionadas às questões ambientais.
Para tal fim, contamos com a colaboração da Prefeitura do Campus Universitário que cedeu um micro ônibus para a condução dos estudantes e professores. O ônibus deixou o campus às 8h50min, chegando ao CEPEAM às 9h28min, localizado no bairro do Aleixo, numa área de aproximadamente 55 hectares, próximo ao espetacular Encontro das Águas. Lá, fomos recebidos por Akira Tanaka (ecólogo e coordenador do CEPEAM) que nos conduziu até o auditório do Centro, onde nos falou sobre a origem do CEPEAM e sua filosofia, dando-nos uma breve cronologia do surgimento desta instituição: desde quando ela fora idealizada por Daisaku Ikeda, presidente da Sokka Gakkai Internacional, na década de 90, até os dias de hoje. Ele também ressaltou seus principais objetivos: criar um pedaço mais rico da Amazônia (rica vegetação em espécies de valor econômico e ecológico que sirvam para as futuras gerações comprovando que o homem pode cuidar da floresta amazônica e enriquecer de forma sustentável) e falou das diversas atividades desenvolvidas pelo centro: a recuperação de áreas desmatadas, a introdução de espécies de plantas ameaçadas de extinção e da integração das escolas com o meio ambiente, visando à educação ambiental no sentido de promover a sustentabilidade. Ele encerrou sua palestra com a seguinte frase dita pelo idealizador do Centro: “O protagonista que constroi a nova era é o povo. O mundo espera pelo povo que vence por sua crença e união”. (Daisaku Ikeda)
Dando continuidade às 10h07min, a palavra foi dada à professora Marisa Lima, moradora do bairro Colônia Antônio Aleixo e integrante do movimento “S.O.S. Encontro das Águas” que centra os esforços de seus integrantes no tombamento do encontro das águas. Ela falou sobre o porquê de tal organização, dos seus propósitos e objetivos. Relata que o S.O.S. Encontro das Águas nasceu da indignação da população perante a criação de um porto que acabaria com a paisagem e prejudicaria não só a população, mas também o meio ambiente e o ecossistema local. Falou das perseguições políticas feitas à comunidade local por conta de suas ações relacionadas ao meio ambiente. Declarou que a luta pela conservação e preservação do encontro das águas não depende exclusivamente dos moradores daquelas imediações, e que o problema ambiental é uma questão que envolve toda a população e não apenas uma parcela dela. Devem-se criar políticas voltadas para o uso consciente dos recursos naturais, de maneira que as futuras gerações possam usufruir das maravilhas que a natureza nos proporciona, tal como o é o encontro das águas.
Em seguida, contamos com a participação de Dona Maria do Carmo, também moradora do bairro Colônia Antônio Aleixo e militante do S.O.S. Encontro das Águas, ela falou de como era o lago do Aleixo na época de sua chegada neste bairro e de como essa região era rica em recursos naturais e hoje lamenta a poluição causada pelo homem. Dona Maria do Carmo encerrou sua participação lendo uma oração voltada para o meio ambiente, manifestando seu amor à natureza.
Participou ainda deste primeiro momento a jovem Alcilene (assistente social e assessora do movimento S.O.S. Encontro das Águas). Ela relata como se desenvolveu esse projeto que nasceu da união de três empresas: o Grupo Solimões, a Bovespa e a Fundação Vale do Rio Doce. Falou das reuniões ocorridas com os comunitários e os representantes políticos nas quais se discutiam sobre os impactos que seriam ocasionados pela construção do Porto das Lages. Mencionou ainda as dificuldades enfrentadas pelo movimento e as estratégias de marketing por parte dos interessados na criação do porto, na tentativa de manipular a população local de maneira que a opinião desta se tornasse favorável à criação do porto. Ela disse que atualmente existen 33 organizações associadas em prol da criação do Porto das Lages e alertou para o envolvimento dos estudantes universitários em pesquisas que visassem à conservação do meio ambiente.
Encerrado este primeiro momento, o ecólogo Akira nos levou para conhecermos uma parte das dependências da Reserva Particular do Patrimônio Natural do CEPEAM, na qual em uma de suas trilhas nos mostrou onde eram depositadas as mudas de plantas de espécies de valor comercial e que seriam utilizadas no processo de reflorestamento, um dos objetivos desta instituição. Ele falou da importância da proteção do meio ambiente e da biodiversidade local. Akira também nos mostrou parte do sítio arqueológico localizado ao lado do centro, comprovando a existência de comunidades indígenas que outrora viveram naquela região.
Às 11h35min h voltamos à sede do CEPEAM e tivemos a oportunidade de apreciar o espetáculo paisagístico, que é o Encontro das Águas, por meio de um mirante localizado no terraço da mesma. Aproveitamos a oportunidade para registrar esse momento ímpar que nos provoca muitos questionamentos a respeito do meio ambiente, tais como: “Existe concílio entre o progresso e a natureza?”, “Será que as futuras gerações também poderão um dia viver aquele momento único?”. Tais reflexões nos incitam a pensar que existe sim uma forma de desenvolvimento sustentável que supra as necessidades humanas ao passo que não prejudique o meio ambiente, propiciando a melhoria da qualidade de vida de todos.
Depois deste momento, voltamos ao auditório onde o professor Ademir Ramos fez os devidos agradecimentos e deu a palavra a Kemerson Macedo, um dos coordenadores do Núcleo de Cultura Política do Amazonas (NCPAM), que mais uma vez ressaltou a importância e o papel do meio ambiente no âmbito das Ciências Sociais.
Concluímos que este trabalho de campo foi bastante produtivo e de grande importância para aumentar nossos conhecimentos e ampliar nossa visão sobre o meio ambiente, nos mobilizando com a causa do S.O.S. Encontro das Águas, afim de que esse patrimônio da humanidade seja visto como um representante da história e da cultura local, no intuito de se criarem políticas voltadas para sua preservação e conservação.