Mas, depois de Fogo Morto, estou começando a gostar dos escritores brasileiros. Fogo Morto é simplesmente envolvente, rico em diálogos, as personagens são fascinantes, o leitor pode se identificar com uma deles, pois são pessoas comuns, sem muitas regalias, gente do povo.
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(José Lins do Rego)
"Fogo Morto" vem de Engenhos que deixaram de funcionar, engenhos que pararam de moer cana-de-açúcar, que paralizaram suas atividades.
O livro divide-se em três partes, todas com 7 capítulos. A trama toda se passa na cidade do Pilar, cidade pacata, no interior da Paraíba, numa época em que o governo mandava e desmandava em todo mundo. A espessura do livro de início pode dar a impressão: "Eu não vou terminar de ler nunca." Mas demorei pouco mais de um mês. Comecei a lê-lo em 05 de outubro e terminei hoje. Aqui vou tentar fazer uma breve crítica sobre as três principais personagens do livro.
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Mestre José Amaro - Artesão, homem de seu trabalho. O seleiro é a personagem inicial do livro, morador do Engenho "Santa Fé" possui uma esposa e uma filha, Marta, é tachado pelo povo de lobisomem, por possuir uma postura agressiva, sempre com respostas secas, homem de pouco falar, e possui hábitos noturnos. Sua filha é uma moça entrando na fase adulta, a menina enlouquece, mestre José Amaro vê-se obrigado a mandar a filha para o hospício. Mais tarde, como não bastasse a desgraça, é expulso do Santa Fé e é obrigado a deixar a casa que foi de seu pai. Contudo, não arreda os pés e encontra em um cangaceiro o capitão Antônio Silvino, a solução para esse problema. Vive sob a companhia de um negro bêbado o Passarinho. Ao final, é abandonado pela esposa que vai morar perto da filha, vê-se perdido neste homem, sem amor pelo que faz, sem ter motivos para sua exitência, se suicida com a faca de cortar sola para fazer arreios de sela.
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(Mestre José Amaro e Capitão Vitorino interpretado no cinema)
Coronol Lula de Holanda - Uma figura rústica, arrogante, apresenta dupla personalidade durante a trama. O coronel Lula de Holanda é um homem importante, senhor de Engenho a beira da falência, casado com D. Amélia e tem uma filha, Neném, que é o motivo de sua existência. O coronel aparece no Santa Fé pela primeira vez no tempo em que este engenho era próspero e produtivo, sob o comando do sogro o coronel Tomás. O coronel Tomás morre de desgosto ao ver que o genro não levava jeito para senhor de engenho, sua esposa, mãe de D. Amélia, assume a posição de Senhora de Engenho. A sogra de Lula morre depois que Neném nasce. D. Amélia se entristece, pois perdera um filho e estava perdendo o amor do marido. O Coronel Lula vai vivendo às mínguas do que deixou o seu sogro, adquire epilepsia e não pode ficar nervoso, ou com raiva. Seu engenho é saqueado por Antônio Silvino, que acreditava que a família tinha ouro escondido na propriedade.
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(Típica Casa de Engenho)
Capitão Vitorino - A figura mais marcante do livro, homem simples, opositor ao governo, tido como louco por alguns moradores do Pilar, tido como um homem de bom coração por outros. O capitão Vitorino Carneiro da Cunha é o típico brasileiro sonhador, aquele cara que quer transformar o mundo. O capitão não é rico, como os outros parentes da Várzea, que são donos de Engenho, mas como todo homem que se dê ao respeito Vitorino tem o seu orgulho. Tem uma esposa, D. Adriana, e um filho, Luis, que tem patente na marinha. Vitorino possui um apelido de que não faz gosto, o livro não descreve a sua origem, mas o povo o pertuba chamando-o de "Papa-Rabo", talvez por Vitorina estar sempre atrás de alguma figura importante. É um político atuante, sonha em transformar o Pilar. Vitorino nada teme, responde até mesmo com ignorância o capitão Antônio Silvino. O ápice da história de Vitorino é quando ele enfrenta o tenente Maurício, homem que a serviço do governo comanda sua tropa em busca de Antônio Silvino, o cangaceiro. Vitorino não é um camumbembe qualquer, é um homem de respeito, mas que de início o povo não leva tão a sério.
Acho que isso é Fogo Morto, um livro bom de se ler, apesar da história triste e dramática. Considerada a obra-prima de Lins do Rego, Fogo Morto é o romance da demência...